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De trimestre em trimestre

Que o período de gestação é uma montanha russa todo mundo sabe: uma vida virada de cabeça pra baixo com altos índices de emoções, hormônios, sentimentos e as mais variadas e inéditas sensações.


Essas reações, sejam físicas ou psicológicas, variam a cada pessoa e marcam com mais ou menos força alguns períodos específicos dessa experiência. Ainda que, de modo geral, muitas gestantes dividam semelhanças nesse sentido, nunca podemos generalizar. Tem gente que enjoa, outras não; outras dormem, ou viram atletas; engordam muito ou nem parecem que estão grávidas; e por aí vai.


Por isso pensei em dividir um pouco das impressões que tive nesses últimos meses acompanhando de perto a evolução da gestação da Ana Julia:




Os três primeiros meses: Susto. Surpresa. Euforia. Amor.


O ápice desse período é a velha história da comemoração do Bebeto. Descobrimos, e agora?


Dias de tensão, de medo e vontade infinita de ter certeza que está tudo bem (“Doutor, tem certeza que não é melhor fazer mais um exame?”).


Os três primeiros meses parecem demorar uma eternidade de vez em quando – principalmente porque normalmente você espera esse tempo para enfim poder contar por aí a novidade. Pais de primeira viagem se assustam com os comentários que dizem que é o principal período de evolução do bebê, quando você fica sabendo se realmente ele está se desenvolvendo bem ou não. É hora de aprender a lidar com os pequenos sustos da gestação: como não entrar em desespero e aceitar que um sangramento é normal?


Sintomas da mamãe: culpa. “O que eu faço com toda a cerveja que eu tomei nos últimos dias?” E japonês? Como ficar 9 meses sem comer?

Em geral, dizem que esse é o período principal para as cólicas e enjoos. Por sorte Ana não teve nenhum dos dois, mas sim muito sono e muita fome. Dobrou os pratos e começou a ficar mais cansada que o normal.


Sintomas do papai: ansiedade para saber que está tudo bem, e para poder brindar pela notícia com os amigos.



O segundo trimestre: Comemorar e aproveitar.


Talvez seja a parte em que você mais aproveita a gestação. A ansiedade continua (“Não vai começar a mexer não?!”), mas a mamãe começa a se sentir melhor e mais confiante. Passada a euforia da família, é hora do casal se curtir e mergulhar de cabeça nesse mundo louco da (p)maternidade. Ler, ouvir, debater, perguntar... aprender um pouco e já se achar expert no assunto. Aqui o casal (em teoria) já está decidido sobre o tipo de parto e onde vai ser (acreditam que ir visitar as maternidades é super legal?). Também é a hora que a disposição ajuda a ter pique para preparar o enxoval. Se vai viajar ou não, é com vocês, mas essa é a hora.


De repente você percebe que uma porcentagem gigantesca das suas conversas passam a envolver o tema gravidez, e você começa a reparar em um monte de coisa que antes passava despercebida (“Vejo grávidas em todos os lugares! Esse mundo está mesmo louco, estão nascendo muitas crianças!”).


Por que não tirar um final de semana para viajar vocês dois? Essa é a hora!


Sintomas da mamãe: as cólicas e os enjoos vão passando. Outros sintomas como por exemplo câimbras e sangramentos no nariz surgem, e no final também são absolutamente normais.

A fome continua grande, e a disposição cresceu! Nesse sentido nem parece que está grávida (afinal, lembrem-se: “gravidez não é doença”).

Exercícios, viagem, festa, casamento, e a mamãe tá lá firme e forte curtindo cada vez mais essa nova mulher, linda e com um bebê na barriga. Ah, e esse bebê já tá começando a se mexer hein? E a mamãe lutando para não se sentir estranha conversando com a barriga.


Sintomas do papai: mais acostumado, mas talvez também mais preocupado. Ainda custa para entender tantas mudanças em uma barriga que ainda não cresceu tanto, mas ao mesmo tempo curte se sentir entendido nos novos assuntos. Agora é aproveitar e saber quando ter paciência para poder cuidar de quem merece 100% da sua atenção.



Terceiro trimestre: A reta final.


Esse período merecia ser quebrado em vários. Lembre-se que a gestação não é calculada em meses, e sim em semanas (o cálculo médio são 40 semanas, o que dá quase 10 meses), e essa é a parte onde tudo evolui muito rápido. A barriga cresce, o corpo incha, a bexiga aperta e os movimentos vão ficando mais difíceis para a mãe. Já o bebê já não para de se mexer, o que garante momentos lindos e de muita emoção, mas também noites de sustos e muitas idas ao banheiro.


Essa é a parte que dá um pouco mais de trabalho, mas onde você começa a ver as coisas se materializando. Quarto do bebê, mala da maternidade, momento do parto – tá tudo certo? Ninguém quer adiantar nada, mas muito menos ser pego de surpresa. Não custa deixar tudo pronto para tentar relaxar um pouco nessa reta final e esperar a hora certa.


Sintomas da mamãe: lembra da definição de montanha russa? Aí estamos. A hora está chegando, a barriga crescendo e a cada movimento estranho vocês ficam tentando adivinhar: “Essa ponta aqui será que é o cotovelo? Ou o joelho? Mas se é a cabeça, onde tá o resto?!”.

As mudanças se concretizaram e o cansaço cresce na mesma medida da ansiedade. Está tudo pronto? Nunca. Sempre há algo novo, mamãe pensa em tudo. E sente tudo, também.

Sofre às vezes pois nem sempre o pai e as outras pessoas acompanham essa revolução na mesma velocidade, mas é a partir daí que começa a tomar conta do lugar que é só dela: a líder e protagonista dessa história. Que entende melhor que ninguém o que está acontecendo e como seu filho está crescendo. Mas que também não é de ferro, e precisa mais que ninguém do básico: uma mão para segurar, uma ajuda para se levantar e uma massagem para relaxar.


Sintomas do papai: você também está nessa montanha russa, mas talvez pendurado, e não sentado no carrinho. Vai correndo tentando acompanhar e a cada minuto entender tudo o que está mudando (com ela, com você, em vocês).

Nove a cada dez perguntas que você recebe passam a ser “E aí, ansioso?”. Sim, ansioso. Por mais que você ache que está fazendo seu máximo e que tudo já está pronto, já te adianto: não, não está. Sempre tem algo mais para fazer. Não se culpe se não se lembrar, mas se esforce mais sempre que puder. Mais do que nunca o ponto mais importante que deve existir nessa relação e no qual sua participação é essencial se chama carinho. Você pode até esquecer de ligar para tirar aquela dúvida no convênio, de recolher aquela roupa do chão (lembre-se: qualquer coisa que caia ou aconteça a menos de 1 metro do chão agora é sua responsabilidade) ou ter se enrolado para montar o móvel que chegou mas ainda está na caixa. Mas você não pode deixar de dar carinho.

Aos poucos você percebe que a relação que já existe entre a mãe e o serzinho que cresce dentro dela é incrivelmente mágica. Eles já conversam, se entendem e se conhecem muito mais do que vocês poderiam imaginar. E isso não é motivo para você se sentir mal ou pensar que está ficando para trás nessa história... pelo contrário, isso é puro amor e motivo de orgulho. Hora de incentivar e acompanhar essa relação – não se preocupe quando escutar que “a ficha do pai demora mais para cair” ou quando sentir que não consegue demonstrar tantos sentimentos quanto o esperado. Seu bebê também já conhece sua voz e em breve seu colo vai enfim poder oferecer o melhor conforto possível para ele.


Se eu pudesse tentar resumir essa história eu diria que estamos falando de múltiplos nascimentos... Está quase na hora de nascer esse bebê que já é tão amado, certo? Certo. Mas o mais legal é que aqui já testemunhamos outros dois nascimentos tão mágicos quanto: o de um pai e de uma mãe.







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